segunda-feira, 7 de abril de 2008

O que faz Carlo quando está longe de tudo aquilo que lhe traz felicidade

I
Caminha em passos
breves
as mãos nos bolsos
vazios
lembra daquelas
duas bandeiras
de fitas
que viu numa manhã
de quinta
e que até hoje
não faz nenhum
sentido
pra ele
(assim como o menino encolhido na
calçada)

II

Sorri um sorriso tímido
de si mesmo
por achar
que aquelas
fisgadinhas no
peito possam ser
lembranças de um antigo amor

bobo que só ele
ainda tem esperanças
de que em algum dia
naquela cidade quente
ainda vá fazer frio

fica pasmo ao descobrir
que tudo aquilo
que achava saber sobre as
três Marias
não passava de mera
brincadeira de criança
e que o céu está
muito além do que seus olhos
podem ver

III
Pensa na pelada de sábado
que não vai há meses
e na chuteira nova
que precisa comprar

e de repente
uma euforia
como aquelas de quando criança
toma conta dele
mas que na verdade
ainda são
aquelas fisgadinhas.

Aí quando ele acha que tudo está sob
controle
ela aparece com o
seu jeitinho simples
água, sal, calor
e pronto.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Desconstrução

Entrou no botequim como se fosse um pássaro
Pediu um “mé” que fosse bem mais aromático
Ergueu a aguardente como se fosse um lábaro
Os breves goles só lhe deixaram mais trêmulo

Bebeu a aguardente como se fosse o último
Gole de anis, licor de hortelã ou de pêssego

Olhava pra uma senhora se achando o máximo
Piscava e paquerava em gestos nada lógicos

Queria ainda que o tratassem como o único
Cliente, porque se dizia muito assíduo

Foi posto para fora e ficou estático
Lançou depoimentos altamente apócrifos
Gritou, esbravejou e tropeçou nas sílabas
Falou muita besteira sem nenhum escrúpulo
Perdeu todo seu respeito feito um decrépito
E atravessou a rua extremamente bêbado

Sentou no meio-fio e debulhou-se em lágrimas

Morreu anos depois com problemas no fígado.