Depois de tantos anos, após muitas discussões e tentativas fracassadas de tentar salvar o relacionamento, eles conversaram e resolveram se separar amigavelmente.
— Você se importa em ficar com todas as fotos e cartas? Disse ele com um ar de quem não quer guardar lembranças.
— Tudo bem. Ah, eu vou querer o pingente da carametade.
— Mas não foi um presente?
— Foi, mas pra quê você vai querer este pingente sem a outra carametade?
— É verdade, não faz muito sentido. Eu vou querer ficar com o quadro do Renato Russo.
— ahãm. Aliás, ele já era seu mesmo, né. Era do seu tempo de garoto.
— É mesmo… E os discos? Você vai querer algum?
— Claro que não, nem existe mais toca disco.
— Posso ficar então com tudo?
— Pode.
— Até os discos do A-HA?
— Até os discos do A-HA.
— Olha, não vejo você tão legal assim desde… desde… bom, na verdade nunca te vi tão legal assim.
E assim foi com os livros, com a louça portuguesa que ganharam da tia Nadir de presente de casamento, os vinhos da adega, as taças de cristal, as plantas, os bichos de estimação (ele ficou com o Bob, o cachorro, e ela com a Sharon, a gatinha siamesa) e com todo o restante. Até chegar a hora dos DVD’s das dez temporadas de “Friends”. A única coisa que foi capaz de fazê-los rirem juntos um dia, agora poderia ser o pivô de mais uma discussão.
— E os DVD’s do “Friends”? perguntou ele.
— O quê que tem? Se fazendo de desentendida.
— Como vai ser?
— Eu vou ficar com eles. Disse ela toda dona de si.
— Por quê?
— Ora, porque… porque eles são meus.
— Seus uma óva! Vamos dividir também.
— Mas não dá pra dividir, é um box. Não tem graça ter um box incompleto.
— Vamos tirar no palitinho?
— Você e suas alternativas ridículas!
— Você tem alguma alternativa melhor, hein?
E assim estava formada mais uma discussão, e agora, por uma coisa que um queria tanto quanto o outro. Era quase que por uma questão de princípios. Ele porque dizia que sempre assistiu à série desde a primeira temporada, e ela porque dizia que teve a idéia de comprar o box; ele dizia que nunca perdeu um capítulo sequer, portanto, se achava mais fã e ela dizia que ele não podia ficar porque se não fosse ela, ele nunca teria sacado que “Central Perk” fazia alusão ao “Central Park”. E cada um foi dando os motivos mais variados e absurdos possíveis. Até que sentaram, olharam um para o outro e se escangalharam de rir.
Até hoje nenhum dos dois sabe porque riram tanto naquele dia. Nem mesmo lembram porque queriam se separar. Mas o que contam hoje, três anos depois da tentativa de divórcio, é que, segundo ele, ela arranjou um motivo esfarrapado para cancelar a separação, porque na verdade, ela ainda era apaixonada por ele. E segundo ela, só resolveu manter o casamento, após a inexplicável transa que tiveram no sofá depois de pararem de rir, porque era insuportável a idéia de ter que ficar sem ele — o box das dez temporadas de "Friends", é claro.
— Você se importa em ficar com todas as fotos e cartas? Disse ele com um ar de quem não quer guardar lembranças.
— Tudo bem. Ah, eu vou querer o pingente da carametade.
— Mas não foi um presente?
— Foi, mas pra quê você vai querer este pingente sem a outra carametade?
— É verdade, não faz muito sentido. Eu vou querer ficar com o quadro do Renato Russo.
— ahãm. Aliás, ele já era seu mesmo, né. Era do seu tempo de garoto.
— É mesmo… E os discos? Você vai querer algum?
— Claro que não, nem existe mais toca disco.
— Posso ficar então com tudo?
— Pode.
— Até os discos do A-HA?
— Até os discos do A-HA.
— Olha, não vejo você tão legal assim desde… desde… bom, na verdade nunca te vi tão legal assim.
E assim foi com os livros, com a louça portuguesa que ganharam da tia Nadir de presente de casamento, os vinhos da adega, as taças de cristal, as plantas, os bichos de estimação (ele ficou com o Bob, o cachorro, e ela com a Sharon, a gatinha siamesa) e com todo o restante. Até chegar a hora dos DVD’s das dez temporadas de “Friends”. A única coisa que foi capaz de fazê-los rirem juntos um dia, agora poderia ser o pivô de mais uma discussão.
— E os DVD’s do “Friends”? perguntou ele.
— O quê que tem? Se fazendo de desentendida.
— Como vai ser?
— Eu vou ficar com eles. Disse ela toda dona de si.
— Por quê?
— Ora, porque… porque eles são meus.
— Seus uma óva! Vamos dividir também.
— Mas não dá pra dividir, é um box. Não tem graça ter um box incompleto.
— Vamos tirar no palitinho?
— Você e suas alternativas ridículas!
— Você tem alguma alternativa melhor, hein?
E assim estava formada mais uma discussão, e agora, por uma coisa que um queria tanto quanto o outro. Era quase que por uma questão de princípios. Ele porque dizia que sempre assistiu à série desde a primeira temporada, e ela porque dizia que teve a idéia de comprar o box; ele dizia que nunca perdeu um capítulo sequer, portanto, se achava mais fã e ela dizia que ele não podia ficar porque se não fosse ela, ele nunca teria sacado que “Central Perk” fazia alusão ao “Central Park”. E cada um foi dando os motivos mais variados e absurdos possíveis. Até que sentaram, olharam um para o outro e se escangalharam de rir.
Até hoje nenhum dos dois sabe porque riram tanto naquele dia. Nem mesmo lembram porque queriam se separar. Mas o que contam hoje, três anos depois da tentativa de divórcio, é que, segundo ele, ela arranjou um motivo esfarrapado para cancelar a separação, porque na verdade, ela ainda era apaixonada por ele. E segundo ela, só resolveu manter o casamento, após a inexplicável transa que tiveram no sofá depois de pararem de rir, porque era insuportável a idéia de ter que ficar sem ele — o box das dez temporadas de "Friends", é claro.
7 comentários:
Haha.
O texto é fantástico!
E tem tanta gente com essa idéia de se separar ainda amando...
Obrigado pela visitinha, Natália.
volte sempre.
Pois é, você demorou para reconhecer. Nunca tinha vindo aqui! Muito bom! Frequentarei...
Valeu Greg.
Um abração.
adorei, vc tá FODA!!!!!!
perfeito. Inviável era ficar sem a caixa do "Friends". kkk Ponto pra essa sua mulher. Adorei.
bom te ter de volta, Rafael.
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