Vira
pra mim, que estou na grade lateral, e faz um coração com
as mãos. Essa é minha garota!
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Deusa da raça
Toda terça-feira tem a
Pelada dos Amigos da Esquina, clube que Ariane participa há cinco
anos. Única mulher do clube. Sim, ela joga futebol. Boa de bola.
Mas muito quizumbeira. Ariane chega atrasada pra pelada, quer tirar o
time, forma panela, dita as regras. Ariane xinga o juiz, o goleiro, o
zagueiro, o próprio time, a galera que está na de fora; até a mim,
que estou assistindo. Briga com todo mundo. Parte pra mão. Zoinho,
seu melhor amigo, fica sempre na contenção. Zoinho é tipo atleta
de Cristo, sempre administra as confusões. Ariane sempre está
metida nas confusões. Ariane chega no tornozelo com maldade. Toma
cartão amarelo. Reclama da arbitragem. Parte pra briga com o
adversário. Zoinho administra no o que que é isso gente?.
Ariane recomeça. Sai a bola sem
fair play. Empurra o juiz, que está na frente. Parte pra dentro do
zagueiro. Dá uma caneta nele. Dribla o goleiro e faz o gol. Sai
correndo gritando que é foda!
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Ariane com asas
Ariane sempre me surpreende. Quando eu menos espero, tchan-ran!, ela me aparece com mais uma. Dessa vez, logo que acordei, sobre o embaçado dos meus olhos, estava Ariane de frente para o espelho, claramente feliz, com as lindas asas que lhe nasceram. Disse que foi durante a noite. Ela mandou que me apressasse, porque agora precisávamos de um novo lar, maior e mais confortável. Que um novo fruto colheria. Ela precisava voar. Confesso ter ficado um tanto confuso com aquilo tudo: talvez com tantas asas, perca-se um pouco da humanabilidade. Mas não com Ariane. Ela estava convicta e merecidamente linda. Só vendo.
Ela me disse que agora
pode voar. Sentir o vento bater nos olhos. A chuva queimar. Pousar
sobre a flamboyant que a gente vê daqui de casa, confundi-la com
suas novas cores. Que agora sua liberdade não tem mais aspas.
Danadinha a Ariane! Sabe tudo. Sabia de tudo o tempo todo. Espera
sempre a hora certa para falar. Todo aquele suspense da última
semana me deixou assustado. Mas ela me confortou, dizendo para eu não
me preocupar, porque só almas gêmeas ficam em silêncio sem
constrangimento. Como eu aprendo com Ariane! Só ela faz de um
canteirinho de plantas na varanda, sítio. De um feixe de luz, ocaso.
E de qualquer asas, liberdade.
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Dentro de Ariane
para Camila Szabo
As coisas não poderiam estar melhor entre nós. Agora eu moro dentro de Ariane. Depois que eu passei a morar dentro de Ariane, tudo ficou mais calmo. A paz é constante e o silêncio se ouve lá de fora. Está tudo bem mais seguro. Ela diz que é porque agora eu sou um novo homem. Ela diz que depois que eu passei a morar dentro dela, que ela não sente mais a falta das pessoas que já se foram. Dizem, e eu não estou aqui para negar, que quando se perde alguém, perde-se também a esperança. E estar dentro dela lhe fez sentir tudo de novo. Nos divertimos à beça. Ariane dá gargalhadas, quando lhe faço cócegas por dentro. E eu fico todo bobo! Esperei por isso há anos. Ela me diz que quer ouvir coisas bonitas saindo de dentro dela. Eu digo: meu bombom de chocolate com recheio de coco. Sorvete de queijo com doce de leite. Minha delicinha. Minha riqueza. Meu pitéu. Minha coisinha. Coisinha de louco. Agora sou eu quem a enche de expectativas. Esperança de gol em reprise de futebol. Balão de gás que dure para sempre. Três partes iguais de raspadinha. Não poderíamos estar melhor. Dentro dela não há frio. E a chuva nunca incomoda. Sempre que há calmaria, ela repousa as mãos sob os seios e conversa comigo:
— Existe alguma coisa que você ame?
— Amo você, Ariane.
— Quanto?
— Muito.
— Desde quando?
— Desde sempre.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Ser um bobo
Ariane é muito boba! Boba mesmo. Mas ela deixa que achem que é boba até onde quer. Sua artimanha contra os bobos que pensam que são espertos. Esperta é ela que deixa que pensem que é boba, enquanto se finge de boba das espertezas alheias. Às vezes Ariane me deixa escutar suas broncas repousado no seu colo. Acústica perfeita. Batidão dos meus dias de menino feliz. Balada romântica de um esperto apaixonado. Mas também eu tenho feito por onde. Já não ligo mais que ela suje as paredes, que espalhe sacolas pelo chão só para eu recolher, nem que estejam seus pelos por toda parte no apartamento. Entrelaço minhas pernas as suas. Aí ela diz que essa noite eu posso. E me crava as unhas no peito. Fico destrambelhadamente feliz. Bilhete de loteria premiado. Beijo na boca no escuro escondidinho. Desejo de punheta se realizando. Será que é você quem opera a máquina mundo? Como ela sabe agradar! Sabe do que preciso. Como você é esperta, Ariane! Fico bobo com a sorte que tenho. Sorte minha você me ter. Ah, quanto perdi antes de te conhecer. Eu era um esperto mesmo. Agora aprendi. Aprendi a ser bobo. Você me ensinou que pra ser gostoso tem que doer. É só apertar os olhos e segurar um pouquinho a respiração que dá pra sentir. E aí eu fico besta, rodopiando, feito um louco, desembolando sino dos ventos.
terça-feira, 20 de setembro de 2011
Ariane
Não sei mais o que fazer. Ariane agora deu para arrancar cadarços. Morder a quina do sofá. Não fosse meu amor sempre fresquinho e prontinho para perdoar, ela estaria frita.
Às vezes me pego acariciando seus cabelos enquanto ela dorme. Até a hora em que acorda com a garganta arranhando, de respirar pela boca. E me dá um bote. Reflexo, retroflexo. Mania de quem cisma em não querer afagos. E me morde com a boca cheia de dentes, muro de caco de vidro pontiagudo, borda de copo quebradinha, remela matinal ressecada cortante no canto do olho. E me lambe. Depois de machucar me lambe. Como quem diz: Aqui quem manda sou eu! Escarro e beijo, e você volta pra mim! E volto. Ela sabe. Acho que gosto assim. É simples, prático, como os sucos de caixinha que nos deixam mal acostumados.
Ah, Ariane! Você tem sorte. Sorte sua ser cheirosa. Cheirosa e quentinha. Quentinha e macia. Macia e gostosa de apertar. Coisa fofa. Meu mimo. Minha vaidade.
Ah, Ariane! Você tem sorte. Sorte sua ser cheirosa. Cheirosa e quentinha. Quentinha e macia. Macia e gostosa de apertar. Coisa fofa. Meu mimo. Minha vaidade.
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Em tempos de calor e corpos perfeitos
o pior de se afogar na praia
não é o monte de água
que se bebe
mas
o tanto de sódio
que se ingere
não é o monte de água
que se bebe
mas
o tanto de sódio
que se ingere
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
De quando fui um policial do Bope
hoje eu sonhei
que era um policial
do Bope
que invadia morro
que atirava em vagabundo
acordei apertado
mas voltei pra cama
para retomar o sonho
missão dada é missão cumprida!
que era um policial
do Bope
que invadia morro
que atirava em vagabundo
acordei apertado
mas voltei pra cama
para retomar o sonho
missão dada é missão cumprida!
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Juliana Caymmi
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Aspas e indiferença
entenda que expor em
demasiado o corpo nu
me esgota a saliva
e a lascívia desgasta
quando não há mais o
que descobrir
o segredo é que causa o
deslumbramento e
assombro, essência da adoração
portanto, recomponha-se
vista-se
antes, tomemos juntos
esta cachaça
que de súbito
nos traga
um gole só
demasiado o corpo nu
me esgota a saliva
e a lascívia desgasta
quando não há mais o
que descobrir
o segredo é que causa o
deslumbramento e
assombro, essência da adoração
portanto, recomponha-se
vista-se
antes, tomemos juntos
esta cachaça
que de súbito
nos traga
um gole só
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
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