terça-feira, 19 de agosto de 2008

No motel

— Surpresa!
— rá rá rá! O que é isso? (se escangalhando de rir)
— É pra você amor. Não gostou?
— Sei lá... mais ou menos.
— Mas você não disse que odeia pêlos?
— Eu odeio pêlos em mim.
— Então quer dizer que eu depilei o peito e a barriga à toa? Estou parecendo um pintinho pelado à toa?
— Ah... é que ficou um pouco diferente. E além do mais, eu até gosto dos seus pelinhos.
— Poxa, eu pensei que iria te agradar.
— Tudo bem, depois cresce de novo.
— Essa porcaria tá pinicando!
— Tá vendo como que nós mulheres sofremos com depilações.
— Sofrem porque querem. Eu sempre te pedi pra deixar crescer os pelinhos da perna e dourá-los. Odeio esse negócio de coxa com pêlos até o joelho.
— Ah, não, eu não vou ficar igual a uma ursa por sua causa.
— Mas eu posso ficar com essa aparência de garoto de programa barrigudo!
— Eu não te pedi pra fazer nada disso.
— Eu fiz porque achei que iria te agradar, mas você nunca está satisfeita com nada. Sua frieza me mata!
— Você é que não consegue mexer comigo.
— Você sempre me pareceu satisfeita. Então você mente pra mim há todo esse tempo?
— Que “há todo esse tempo”? Nós só estamos juntos há 3 meses.
— Tá bom... A gente não veio a esse motel pra ficar discutindo, né?
— Agora eu perdi a vontade.
— Como assim!? Olha pra mim, eu ainda estou cheio de gás.
— Até parece... (rindo) Nem se você fosse um botijão estaria cheio de gás. Aliás, eu nunca te vi com gás.
— Pois não parece, porque você sempre fica com um sorrisinho safado depois que a gente transa. É tudo fingimento?
— Não, porque eu me concentro bem.
— Eu é que sou bom mesmo!
— Bom!? Até o Astoufo, meu ursinho de pelúcia, é melhor do que você.
— Você transa com seu ursinho de pelúcia?
— Só uso a patinha dele.
— Não acredito. A gente precisa conversar sobre isso.
— Sobre o Astoufo? Não liga não, ele...
— Não. Sobre a nossa vida sexual. A gente só se vê uma vez por semana. Precisamos fazer mais sexo.
— Como precisamos? Eu faço sempre.
— O quê!? Você sai com outros caras?
— ué, nós nunca falamos em exclusividade.
— Ai meu Deus, eu não acredito nisso! Eu pensei que você estivesse só comigo.
— Pra ser sincera, eu nem tô mais querendo ficar com você.
— E você vem me dizer isso logo aqui?
— Você não me deu outra escolha.
— Eu não acredito! Você me trai com outros caras, não tem tesão por mim, transa com um ursinho de pelúcia... Tem mais alguma coisa bizarra sobre você que eu ainda deveria saber?
— Eu nunca te cobrei.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Uns nomes

“um breve ensaio sobre o nome e seu uso cotidiano”

Quando nascemos recebemos um nome, um nome que será nossa marca, nossa identidade e que por mais que não gostemos dele, pois não foi da nossa escolha, é ele que carregaremos até a morte, aliás, o nome é a única coisa que podemos levar conosco para a eternidade. Somos dependentes desta marca classificatória, a que nos distingui das outras pessoas. Precisamos a todo o momento do nome, precisamos a todo o momento nos identificar. E gostamos de ser identificados, é quase uma questão de vaidade.
A técnica mais antiga de identificação era a tatuagem, já utilizada pelos romanos para marcar os mercenários de suas tropas. A partir do século XIX a fotografia, a medição antropométrica e a datiloscopia passaram a ser fundamentais no trabalho de identificação das pessoas. No Brasil, a cédula de identidade, mais conhecida sob as iniciais RG (Registro Geral), traz, além do nome do portador, o de seus pais, o da cidade e o do Estado em que nasceu, o dia, mês e ano em que veio ao mundo, uma foto, a impressão digital do polegar direito, a cidade, o estado, a data, o número de matrícula do funcionário responsável, sua assinatura e o emblema da polícia civil, entre outras informações. Daí o olhar de espanto e desconfiança presentes em todas as fotos das carteiras de identidade. Mas tudo isso não se faz merecedor de atenção, o importante mesmo é o nome, mesmo que não seja de muito grado do seu dono como aqueles nomes fáceis de rimar com alguma coisinha cabeluda ou aqueles em que é preferível ter um apelido.
A palavra nome vem do latim nomine, nome. Durante muitos séculos, o nome de batismo supria o do registro civil. Era comum os bebês receberem nomes de santos. No Caso do príncipe que proclamou nossa independência, seu nome completo era Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon. Bragança era da família real do pai, D. João VI. E Bourbon, da realeza espanhola da mãe, Carlota Joaquina. D. Pedro I foi o 27º rei de Portugal, com o título de Pedro IV, e o primeiro imperador do Brasil (só a título de curiosidade).
Não faço muita questão que me chamem pelo meu nome, já me acostumei a ser chamado por algumas pessoas de Carlinho, Luisinho, Fábio e o mais atual de todos, Edu. Não sei o que fazer, fico tímido, não consigo corrigir a pessoa dizendo que este não é meu nome. Sou cordial, isto não me cria grandes problemas. Um grande amigo meu, que lá se vão uns 15 anos, não consegue me chamar de outra coisa que não seja Luisinho e em uma ocasião especial, numa tentativa sem sucesso, tentei corrigi-lo e ele simplesmente me respondeu: – Tudo bem Luisinho. Desisti completamente de esboçar qualquer esforço para manter intacta minha identidade.
A sociolingüística na analise da conversação trata o nome como um par adjacente que corresponde ao chamamento e reconhecimento. Daí a idéia central de termos um nome para sermos identificados e reconhecer quando somos solicitados. Cabe a nós, pelo menos, falar o nome certo das pessoas, ou como eu, atender a vários nomes.