sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
De quando fui um policial do Bope
que era um policial
do Bope
que invadia morro
que atirava em vagabundo
acordei apertado
mas voltei pra cama
para retomar o sonho
missão dada é missão cumprida!
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Juliana Caymmi
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Aspas e indiferença
demasiado o corpo nu
me esgota a saliva
e a lascívia desgasta
quando não há mais o
que descobrir
o segredo é que causa o
deslumbramento e
assombro, essência da adoração
portanto, recomponha-se
vista-se
antes, tomemos juntos
esta cachaça
que de súbito
nos traga
um gole só
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Um suspiro profundo
— Por que você bufou?
— Eu não bufei.
— Você bufou sim.
— Não foi uma bufada, foi um suspiro profundo. Não é a mesma coisa. Eu não tenho motivo para dar uma bufada.
— Então por que o suspiro profundo?
— Sei lá, falta de ar. Puxei fundo.
— E você não está impaciente?
— Não, por enquanto não.
— Mas você sempre bufa quando está impaciente.
— Mas eu não bufei, foi um suspiro profundo.
— Eu te conheço, está impaciente porque eu ainda não terminei de arrumar a mala.
— Não estou impaciente, estou só te olhando. Eu não bufei, foi só um suspiro profundo.
— Por que você está se defendendo? Se está se defendendo é porque sabe que bufou.
— Eu não estou me defendendo. E por que você está batendo as coisas?
— Porque você bufou!
— Mas eu já disse que não bufei, foi só um suspiro profundo! Quantas vezes terei que falar?
— Você faz as coisas e depois eu que saio como a maluca.
— Já chega, não vou mais para Itatiaia! Você conseguiu me tirar do sério.
— Não falei? Eu sabia que você tinha bufado.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Conversa de cachorro-quente II
Repara que a salsicha é bem menor que o pão. Vai faltar salsicha para tanto pão.
De que me vale este pão se vai faltar salsicha?
— Eu conheço uma lanchonete onde o pão é menor do que a salsicha.
— Deve ser legal ter um pão com uma salsicha maior!
— Deve ser legal um pão que dure tanto tempo!
— Deve ser legal, né?
Conversa de cachorro-quente I - texto de Rebecca Garcez
Suco de maracujá!
Sentaram.
– Deve ser legal ter pai, né?
– Eu tive por 17 anos.
– É legal ter pai, né?
– Eu só tive por 17 anos.
– Eu já vi gente que tem pai.
– Deve ser legal ter pai... Né?
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Nomofobia
dibicava bem fundo e
cortava neguinho
na mão
quando eu era moleque
montava no meu camelo
e ia varado até a pracinha
quando eu era moleque
matava as bolas de gude
só de tecão na cabeça
quando eu era moleque
pichava os muros
com mijo
com toda a minha masculinidade
hoje, só a ideia
de não poder atender
quando você chamar
me dá calafrios
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Passeio Noturno II
Meia hora depois: Boom! E a caixa de correios de Davi brilhava pelo retrovisor da moto de Júlia, na rua silenciosa e escura.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Passeio Noturno I
A noite chega e Júlia monta em sua moto. E sai pelas ruas. Procura sempre a que mais lhe agrada. A mais calma. Silenciosa, arborizada. Nunca a mesma. Não quer despertar suspeitas. Olha casa por casa, com um cuidado extremo. Minucioso. Examina, como se pudesse saber, a que mais se difere da sua realidade. Traça semelhanças e distinções. E quando escolhe a casa, a satisfação em seu rosto é incontestável. Sua alegria transpassa a angústia e a vontade de chorar, levada por uma euforia que lhe acelera o coração. Ela se aproxima do portão, acende um cigarro, abre uma garrafa de álcool, despeja parte dentro da caixa dos correios, joga o cigarro lá dentro. Pula na moto. E corre. Apenas o suficiente que dê para ver, pelo retrovisor, a caixa de correios explodir. Boom! Os pingos da garoa fina que cai queimam seu rosto, assim como a lembrança dos oito anos sem resposta.
terça-feira, 13 de abril de 2010
Um momento de reflexão
Outro dia eu cheguei bem no bar, aí saí de lá mal, mas pra mim isso não tem nada demais, porque eu fui lá pra beber mesmo. Hip! Quando ficou tarde a minha mulher foi me buscar, ela sempre me procura, e nem adianta eu mudar de bar, porque ela vai me procurando de bar em bar. Quando ela me acha ela vai lá no balcão e me chama, aí eu digo que já to indo, aí ela vai pra porta do bar e fica de braços cruzados e balançando a perna, só que eu não dou idéia, aí ela volta lá dentro e me chama de novo. Eu até convido ela pra tomar uma comigo, mas ela nunca aceita. Eu acho que se ela bebesse, não brigaria tanto, porque ela também ficaria bêbada junto comigo e não teria do que se queixar. Hip! Mas ela nunca se acostumou com o meu jeito, sempre me perturba por causa das mesmas coisas. O problema é que quando nós casamos, ela tinha a esperança de que eu mudasse, mas eu nunca mudei e eu tinha a esperança de que ela nunca mudasse, mas ela mudou; além de chata, agora tá toda baranga. Hip! Não dá mais pra pegar ela, ela tá muito ruim! Outro dia eu tomei meia dúzia de cerveja na intenção dela, mas não deu jeito. E agora a desgraçada deu pra ser violenta e de vez em quando me baixa a porrada, mas bater em bêbado é mole! Hip! Minha primeira surra foi quando eu cheguei em casa de madrugada um pouco bêbado e ela estava me esperando com uma vassoura na mão e eu perguntei se ela iria varrer ou voar. Acho que ela não gostou muito da brincadeira e me arrebentou, desde esse dia eu sinto dores pelo corpo. Eu queria que ela fosse igual a Soraia, pô, a Soraia é mó porra loca, bebe pra caralho e ainda é a maior gata. A Soraia seria a parceira ideal, se ela não fosse sapatão. Se ela não fosse sapatão eu pediria ela em casamento e casaria com ela lá no bar do Chiquito. Mas nem dá pra brincar com ela assim, porque o marido dela, a Jane, é carne de pescoço, é mulher em estado bruto. Hip!
Eu acho que a Soraia nem é sapatão direito, eu acho que ela é mais mulher do que homem, tipo assim, ela é menos sapatão do que a Jane, porque a Jane é invocada, usa cabelo curto, calça jeans, cordão e pulseira grossa e um anel grandão no dedinho mindinho. Vou ser sincero, eu tenho medo da Jane, porque ela é grande pra dedéu, porque eu acho que se ela me pegar ela me arrebenta. Eu nem chego perto da Soraia direito, porque eu não sou maluco, eu sou bêbado. Hip!
A Soraia chapa legal, aí a Jane fica puta com ela, que nem a minha mulher. A Jane deveria ficar com a minha mulher e eu com a mulher da Jane, a Soraia, porque a gente gosta de beber muito e a minha mulher e a Jane não gostam de beber. Pronto, elas formariam o casal perfeito. Aí a minha mulher iria parar de encher o saco e teria um homem em casa do jeito que ela quer e eu e a Soraia iríamos viver peregrinando pelos bares da vida, do jeitinho que a gente gosta. Hip!