sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Ser um bobo

Ariane é muito boba! Boba mesmo. Mas ela deixa que achem que é boba até onde quer. Sua artimanha contra os bobos que pensam que são espertos. Esperta é ela que deixa que pensem que é boba, enquanto se finge de boba das espertezas alheias. Às vezes Ariane me deixa escutar suas broncas repousado no seu colo. Acústica perfeita. Batidão dos meus dias de menino feliz. Balada romântica de um esperto apaixonado. Mas também eu tenho feito por onde. Já não ligo mais que ela suje as paredes, que espalhe sacolas pelo chão só para eu recolher, nem que estejam seus pelos por toda parte no apartamento. Entrelaço minhas pernas as suas. Aí ela diz que essa noite eu posso. E me crava as unhas no peito. Fico destrambelhadamente feliz. Bilhete de loteria premiado. Beijo na boca no escuro escondidinho. Desejo de punheta se realizando. Será que é você quem opera a máquina mundo? Como ela sabe agradar! Sabe do que preciso. Como você é esperta, Ariane! Fico bobo com a sorte que tenho. Sorte minha você me ter. Ah, quanto perdi antes de te conhecer. Eu era um esperto mesmo. Agora aprendi. Aprendi a ser bobo. Você me ensinou que pra ser gostoso tem que doer. É só apertar os olhos e segurar um pouquinho a respiração que dá pra sentir. E aí eu fico besta, rodopiando, feito um louco, desembolando sino dos ventos.