segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Dentro de Ariane

para Camila Szabo

As coisas não poderiam estar melhor entre nós. Agora eu moro dentro de Ariane. Depois que eu passei a morar dentro de Ariane, tudo ficou mais calmo. A paz é constante e o silêncio se ouve lá de fora. Está tudo bem mais seguro. Ela diz que é porque agora eu sou um novo homem. Ela diz que depois que eu passei a morar dentro dela, que ela não sente mais a falta das pessoas que já se foram. Dizem, e eu não estou aqui para negar, que quando se perde alguém, perde-se também a esperança. E estar dentro dela lhe fez sentir tudo de novo. Nos divertimos à beça. Ariane dá gargalhadas, quando lhe faço cócegas por dentro. E eu fico todo bobo! Esperei por isso há anos. Ela me diz que quer ouvir coisas bonitas saindo de dentro dela. Eu digo: meu bombom de chocolate com recheio de coco. Sorvete de queijo com doce de leite. Minha delicinha. Minha riqueza. Meu pitéu. Minha coisinha. Coisinha de louco. Agora sou eu quem a enche de expectativas. Esperança de gol em reprise de futebol. Balão de gás que dure para sempre. Três partes iguais de raspadinha. Não poderíamos estar melhor. Dentro dela não há frio. E a chuva nunca incomoda. Sempre que há calmaria, ela repousa as mãos sob os seios e conversa comigo:

— Existe alguma coisa que você ame?
— Amo você, Ariane.
— Quanto?
— Muito.
— Desde quando?
— Desde sempre.