segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Blow-up

Acordei naquele dia sem lembrar de nada do dia anterior. Caminhei até a sala. Vi minha mãe por sobre um monte de papeis de bala rasgados, bolas estouradas e doces pisoteados. Sua leveza me encantava. Era linda minha mãe. Dedicada e carinhosa. Pensou em todos os detalhes. Não hesitara em acordar cedo e limpar a sujeira que mais um ano da minha vida, que se arrastava, fazia em sua sala pequena. Estava tudo desarrumado e as coisas postas fora do seu lugar. Voltei meu olhar para o quarto e meu pai ainda estava esparramado na cama. Olhei as fotos da noite passada por sobre a mesa. E chorei. Não consegui engolir o choro. Minha mãe encostou a vassoura na parede e alisou os meus cabelos, suave. Chorei de soluçar. Tentei respirar fundo para que o descontrole não rasgasse o silêncio da manhã. Mas meu pai despertou. Caminhou em minha direção. E me deu um tapa. Bem forte. A raiva que me atravessou o estômago não podia mais mudar a fotografia que eu tinha na mão. Ele seria para sempre a pessoa que ganhou o primeiro pedaço do meu bolo de aniversário.

7 comentários:

Elaine Olanda disse...

"para que o descontrole não rasgasse o silêncio da manhã" Isso me lembra alguma coisa...hahaha

Paulo Henrique Motta disse...

claro que sim!! inspiração total. rss

Sérgio Medeiros disse...

Quando comecei a ler pensei: essa tá diferente, suave.
Mais aí veio o tapa e colocou tudo no seu lugar :-)

Paulo Henrique Motta disse...

acho que então consegui meu objetivo, caro Sérgio: quebrar as espectativas.
valeu por mais essa sua participação.

abraços

Sérgio Medeiros disse...

Claro! O senhor está extremamente convidado para o lançamento :-)

abraço!

P.S.: tá fazendo sucesso lá no bolha :-)

Bia disse...

...quanta sensibilidade que brota desse seu ser...sr. Paulo Motta
Bj.Bia

Paulo Henrique Motta disse...

são seus olhos, querida Bia.
muito obrigado mais uma vez.

bjs do Paulinho