sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

De quando fui um policial do Bope

hoje eu sonhei
que era um policial
do Bope
que invadia morro
que atirava em vagabundo

acordei apertado

mas voltei pra cama
para retomar o sonho

missão dada é missão cumprida!

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Juliana Caymmi


Show de lançamento do primeiro CD "Para dançar a vida" de Juliana Caymmi, na Modern Sound em Copacabana, no dia 13/12 as 19:00h com participação especial de seu pai, Danilo Caymmi, Fátima Guedes e Luis Perequê.

Entrada franca!!

** clique na imagem para ampliá-la.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Aspas e indiferença

entenda que expor em
demasiado o corpo nu
me esgota a saliva
e a lascívia desgasta
quando não há mais o
que descobrir
o segredo é que causa o
deslumbramento e
assombro, essência da adoração
portanto, recomponha-se
vista-se

antes, tomemos juntos
esta cachaça
que de súbito
nos traga

um gole só

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Um suspiro profundo

— Por que você bufou?

— Eu não bufei.

— Você bufou sim.

— Não foi uma bufada, foi um suspiro profundo. Não é a mesma coisa. Eu não tenho motivo para dar uma bufada.

— Então por que o suspiro profundo?

— Sei lá, falta de ar. Puxei fundo.

— E você não está impaciente?

— Não, por enquanto não.

— Mas você sempre bufa quando está impaciente.

— Mas eu não bufei, foi um suspiro profundo.

— Eu te conheço, está impaciente porque eu ainda não terminei de arrumar a mala.

— Não estou impaciente, estou só te olhando. Eu não bufei, foi só um suspiro profundo.

— Por que você está se defendendo? Se está se defendendo é porque sabe que bufou.

— Eu não estou me defendendo. E por que você está batendo as coisas?

— Porque você bufou!

— Mas eu já disse que não bufei, foi só um suspiro profundo! Quantas vezes terei que falar?

— Você faz as coisas e depois eu que saio como a maluca.

— Já chega, não vou mais para Itatiaia! Você conseguiu me tirar do sério.

— Não falei? Eu sabia que você tinha bufado.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Conversa de cachorro-quente II



Às vezes tenho a impressão de que na minha playlist tocam sempre as mesmas músicas. Isso não acontece contigo?
Repara que a salsicha é bem menor que o pão. Vai faltar salsicha para tanto pão.
De que me vale este pão se vai faltar salsicha?

— Eu conheço uma lanchonete onde o pão é menor do que a salsicha.
— Deve ser legal ter um pão com uma salsicha maior!
— Deve ser legal um pão que dure tanto tempo!
— Deve ser legal, né?



Paulinho Motta

Conversa de cachorro-quente I - texto de Rebecca Garcez

Uma cebola picada, três dentes de alho bem amassados - os maiores da cabeça -, dourando em algumas colheres de azeite... Ah, e o aroma? Alecrim e salsinha é o segredo. Extrato de tomate enquanto a salsicha vai descogelando. Quando o molho começar a espirrar, pode desligar o fogo. Pão careca, batata palha, ketchup e mostarda. Ele também gosta de queijo.
Suco de maracujá!
Sentaram.


– Deve ser legal ter pai, né?
– Eu tive por 17 anos.
– É legal ter pai, né?
– Eu só tive por 17 anos.
– Eu já vi gente que tem pai.


– Deve ser legal ter pai... Né?


segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Nomofobia

quando eu era moleque
dibicava bem fundo e
cortava neguinho
na mão

quando eu era moleque
montava no meu camelo
e ia varado até a pracinha

quando eu era moleque
matava as bolas de gude
só de tecão na cabeça

quando eu era moleque
pichava os muros
com mijo
com toda a minha masculinidade

hoje, só a ideia
de não poder atender
quando você chamar
me dá calafrios

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Passeio Noturno II

Entediada, Júlia vai ao shopping alimentar seu desejo de consumo. Precisava comer algo diferente naquela noite. Pediu um sanduíche de salmon defumado. Sorriu para o rapaz da livraria que lanchava ali. Disse que lembrava do dia em que o viu derrubando uma prateleira de livros. Sorriram. Em poucos instantes estavam na casa do livreiro. Davi. Como? Meu nome é Davi. Não importava, aquela noite para ela era diferente e especial. O sofá pequeno era o espaço exato de que precisavam. Lá fora, os pingos da chuva, que escorriam, batiam na caixa do ar condicionado, fazendo um barulho forte, constante e acelerado, que se confundia ao deles, ficando cada vez mais distante aos ouvidos. Na mesa, um bocado de envelopes, fechados e abertos, endereçados a Davi. De súbito, Júlia se levanta. Se recompõe. E sem se despedir sai correndo e vai embora. Davi não consegue alcançá-la.
Meia hora depois: Boom! E a caixa de correios de Davi brilhava pelo retrovisor da moto de Júlia, na rua silenciosa e escura.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Passeio Noturno I

Júlia busca a felicidade dentro das mais simples esperanças. Endividada até o pescoço, não se redime aos gastos supérfluos, nem às apostas no jogo do bicho. Uma de suas poucas diversões. Toda dia é a mesma coisa. Acorda cedo. Toma seu café da manhã. Limita-se apenas a um copo de mate gelado e torradas (destas de supermercado) com cream cheese. Vai até a esquina e faz sua aposta diária. Sempre aposta na milhar 6311. Burro. Volta para casa e vasculha a caixa dos correios com esperanças renovadas, pois já se passaram oito anos. Morar sozinha não é ruim, dizia ela, o chato é ter que cozinhar. A comida quando não é o bastante é demais. Difícil acertar a mão! Exatamente por isso, Júlia come queijo-quente quase toda noite, depois do seu passeio.
A noite chega e Júlia monta em sua moto. E sai pelas ruas. Procura sempre a que mais lhe agrada. A mais calma. Silenciosa, arborizada. Nunca a mesma. Não quer despertar suspeitas. Olha casa por casa, com um cuidado extremo. Minucioso. Examina, como se pudesse saber, a que mais se difere da sua realidade. Traça semelhanças e distinções. E quando escolhe a casa, a satisfação em seu rosto é incontestável. Sua alegria transpassa a angústia e a vontade de chorar, levada por uma euforia que lhe acelera o coração. Ela se aproxima do portão, acende um cigarro, abre uma garrafa de álcool, despeja parte dentro da caixa dos correios, joga o cigarro lá dentro. Pula na moto. E corre. Apenas o suficiente que dê para ver, pelo retrovisor, a caixa de correios explodir. Boom! Os pingos da garoa fina que cai queimam seu rosto, assim como a lembrança dos oito anos sem resposta.