quarta-feira, 17 de março de 2010

Duelo

Voltei à casa de Luiza depois de seis meses sem dar notícias. Parei por alguns segundos de frente ao portão buscando a coragem que me havia suprimido a vontade de amar. Duas sombras me chamaram a atenção por trás da cortina. Vi um homem saindo, selando a despedida com um singelo beijo em Luiza. Meu punho automaticamente se fechou. E o encarei com os olhos ígneos. O sujeito acendeu um cigarro. E como se quisesse, feito um bicho, demarcar território, também quis acender um. Eu não fumo. Pela primeira vez na vida me arrependi de não ser fumante. Minha posição agora era de inferioridade ao sujeito, que baforava com completa arrogância aquele cigarro. Me restou fazer ruídos com a boca. Eu chupava os dentes (como o meu pai depois de comer), como se tivesse sugando uma nesga de carne entre eles. Coisa de macho. Talvez isso o intimidasse. Mas ele não se resignou e acendeu mais um com a ponta do outro. Eu estava em desvantagem psicológica. Fui de encontro ao desconhecido. Os punhos fechados. Com um peteleco o homem jogou fora o cigarro, ao qual sorvera de soberba na minha frente. Um soco e dois chutes na boca do estômago o sujeito me acertou. E me deixou retorcido na calçada. No chão eu silabava desculpas com dificuldade. Mais uma vez Luiza cuidou de mim.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Room in Brooklyn


i.

O sol da manhã lançava as suas primeiras notas no céu, acordando pouco a pouco a cidade. Marie já estava devidamente sentada de frente à janela do canto do quarto. Deu o primeiro gole no chá de framboesa, queimando levemente a língua. Deixou a xícara de lado, de modo que a bebida esfriasse um bocado. Abriu o caderno de capa azul e releu os últimos parágrafos que havia escrito na noite anterior. Respirou fundo e sentiu o olhar se perder na imagem dos personagens que criara.

Marie não mais se identificava ali. Nada mais parecia óbvio. Voltou algumas páginas. Suas percepções se alternavam a cada instante. Não entendia porque Olivier Charcot havia aparecido. Marie queria mais. O que havia feito até então não mais a correspondia.

Olhou novamente para o céu. Se espantou com seu tom ainda mais azulado. Buscava agora entender o que as nuvens queriam lhe dizer com aqueles enigmático desenhos.

Talvez não quisessem dizer nada. Talvez esperassem que ela própria reagisse, que tomasse uma atitude. Marie enxugou as duas lágrimas que ameaçavam cortar-lhe o rosto, suspirou profundamente e reconheceu: aquele texto parecia velho, estava horrível. Decidiu iniciar tudo de novo, a começar pela morte do principal personagem.

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ii.

Naquele primeiro dia de céu azul, a Sra. Benjamin conseguiu finalmente sair da cama. Sentou-se na salinha ensolarada, passeando os olhos pelos telhados de Nova York, às vezes pousando sua melancolia sobre o vaso de tulipas.

Até aquele momento — e a guerra acabara há seis longos meses! — ela não havia recebido uma única linha de Arthur. Estaria ainda naquele povoado da Itália? Estaria ferido? Teria se esquecido de tudo? Quem sabe perdera a memória para sempre, vítima de algum estilhaço no cérebro?

Uma brisa fria entrava pelos cantos, apesar do sol que batia em seus pés, e ela estremecia de frio e de medo.

Caminhou até a cozinha e abriu a dispensa, sem saber o que iria encontrar. Há mais de uma semana não ia ao mercado — estava mesmo sem apetite nos últimos dias — e, quando conseguia levantar da cama, obrigava-se a engolir uma torrada, às vezes acompanhada de um copo de leite.

Nada mais naquela casa fazia sentido. O chá já não tinha mais sabor, e as manhãs já não mais lhe inspiravam a escrever cartas sem respostas. Desde que Arthur partiu sofria (talvez fosse por problemas no fígado), mas de qualquer maneira sofria.

As lembranças vinham a todo momento. Queria controlá-las, mas já não era dona de si mesma.

Voltou para a salinha, seu antigo vaso de tulipas ainda estava lá. Se sentiu protegida. Olhou para o céu que parecia lhe dizer algo, mas que não compreendia. Seu pensamento estava em Arthur e suas mãos sobre a nova carta que escrevia.
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Alexia Bomtempo
Elaine Olanda
Maria Helena Malta
Paulo Henrique Motta
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Estes dois contos foram escritos a 4 mãos num exercício de escrita da aula de Teoria da Literatura da professora Rosana Khol. A tarefa consistia em escrever o quanto desse num determinado tempo, tomando como ponto de partida para a inspiração a pintura Room in Brooklyn de Edward Hopper e depois passar para o colega do lado para que ele continuasse. Assim, cada um escreve no seu estilo, mas continuando a ideia anterior.


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Blow-up

Acordei naquele dia sem lembrar de nada do dia anterior. Caminhei até a sala. Vi minha mãe por sobre um monte de papeis de bala rasgados, bolas estouradas e doces pisoteados. Sua leveza me encantava. Era linda minha mãe. Dedicada e carinhosa. Pensou em todos os detalhes. Não hesitara em acordar cedo e limpar a sujeira que mais um ano da minha vida, que se arrastava, fazia em sua sala pequena. Estava tudo desarrumado e as coisas postas fora do seu lugar. Voltei meu olhar para o quarto e meu pai ainda estava esparramado na cama. Olhei as fotos da noite passada por sobre a mesa. E chorei. Não consegui engolir o choro. Minha mãe encostou a vassoura na parede e alisou os meus cabelos, suave. Chorei de soluçar. Tentei respirar fundo para que o descontrole não rasgasse o silêncio da manhã. Mas meu pai despertou. Caminhou em minha direção. E me deu um tapa. Bem forte. A raiva que me atravessou o estômago não podia mais mudar a fotografia que eu tinha na mão. Ele seria para sempre a pessoa que ganhou o primeiro pedaço do meu bolo de aniversário.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Pitéu

muito se engana
pensar que nas
mãos levarei
um
bom
bom
um
cigarro
ou
uma
flor

espere

porque quando eu chegar
pularei em cima de você
como quem faz as pazes

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Beatriz


talvez você não tenha percebido, Bia
mas o meu sorriso é sincero
quando a intimidade ultrapassa o limiar
do prazer da descoberta da pele,
do cheiro e dos sinais [gotas de
chocolate que se espalham pelo corpo]
não adianta ser impaciente, porque
a automatização engole os hábitos

nossos fluidos já não são mais novidade e
nossa intimidade não é mais segredo
suas aleivosias já não me surpreendem
tampouco seu cinismo e descomedimento
aspas e indiferença é que me incomodam
no mais sou tolerante
só pra poder te exibir e provar
que você ainda é minha
mesmo tendo nós trocas poucas
e palavras
curtas
e meio sinceras

massagem no ego
é muito abstrato
eu gosto é de contato
de te sentir
mesmo que não estejas mais aqui

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Super-herói

todas as noites
eu atravesso a janela
com a minha capa de toalha

vejo a paz
em espelho
na lagoa
e a calma da cidade

e volto em meu vôo veloz
pra casa
[heróis também têm
medo de altura]

sábado, 20 de junho de 2009

Linha um-cinco-oito

A Loirinha entrou no ônibus. A Loirinha perguntou ao Motorista se o ônibus subia a Marquês de São Vicente. O Motorista disse que sim e olhou para os seios da Loirinha, porque homem sempre olha para os seios de uma mulher e motoristas também olham. A Loirinha tinha os seios fartos e sua blusa valorizava seus atributos. Eu também olhei para os seios da Loirinha. E o Homem de Terno Preto que estava na frente do ônibus também olhou para os seios da Loirinha, e o Careca Alto, que estava parado no meio do corredor do ônibus, também olhou para os seios da Loirinha. Até as mulheres olharam para os seios da Loirinha. Talvez por isso a Loirinha tenha preferido sentar na frente e não atravessar a roleta, porque a Loirinha estava envergonhada que todos estavam olhando para os seus seios, porque os seus seios eram muito bonitos e sua blusa estava valorizando seus atributos. A Loirinha pagou a passagem e sentou na frente e não atravessou a roleta porque todos olharam para os seus seios, que eram fartos, porque sua blusa também valorizava seus atributos. A Trocadora não rodou a roleta e guardou o dinheiro, porque a Trocadora é pobre e ganha muito pouco, e porque ela acha que esse dinheiro não vai fazer falta para o Dono da Empresa de Ônibus que ela trabalha, porque o Dono da Empresa de Ônibus que ela trabalha é muito rico e esse dinheiro da passagem não vai fazer falta pro Dono da Empresa de Ônibus que ela trabalha, porque ele é muito rico, mas o Dono da Empresa de Ônibus que ela trabalha, que é muito rico, não pensa assim, porque ele quer sempre mais dinheiro e se ele descobrir que a Trocadora, que é pobre, fez isso, ela vai ficar desempregada e ficar mais pobre do que já é. A Trocadora também olhou para os seios da Loirinha, porque os seios da loirinha eram muito bonitos e sua blusa valorizava seus atributos. A Trocadora ficou com inveja dos seios da Loirinha, que eram muito bonitos, porque a Trocadora é pobre e não tem dinheiro pra se manter bonita e nem tem seios fartos e nem uma blusa que valorize seus atributos. O Homem de Terno Preto pagou a passagem e passou a roleta, talvez porque ele não estivesse mais conseguindo ver os seios da Loirinha, que eram muito bonitos. O Homem de Terno Preto se encaminhou para o fundo do ônibus, mas o Careca Alto, que estava parado no meio do corredor do ônibus, nem se moveu para o Homem de Terno Preto passar, daí o Homem de Terno Preto passou todo espremido, porque o Careca Alto estava parado no meio do corredor do ônibus e não queria se mexer para o Homem de Terno Preto passar. O Careca Alto, que estava parado no meio do corredor do ônibus, fez uma cara estranha quando o Homem de Terno Preto passou todo espremido, porque o Homem de Terno Preto estava com o pau duro, porque o Homem de Terno Preto ficou olhando para os seios da Loirinha e ficou com desejo de chupar os seios da Loirinha, que eram muito bonitos, por isso ele ficou de pau duro. O Careca Alto, que estava parado no meio do corredor do ônibus, também estava de pau duro, porque ficou olhando para os seios da Loirinha e também ficou com desejo de chupar os seios da Loirinha, que eram muito bonitos, por isso ele não se mexia para o Homem de Terno Preto, que também estava de pau duro, passar, porque se ele se inclinasse pra frente, iria encostar o pau duro dele no ombro de uma senhora que estava sentada na sua frente. A senhora que estava sentada na frente do Careca Alto, que estava parado no meio do corredor do ônibus, já tinha percebido que ele estava de pau duro, mas não se afastou, porque ela queria que o Careca Alto, que estava parado no meio do corredor do ônibus, encostasse o pau duro dele no ombro dela, mas o Careca Alto, que estava parado no meio do corredor do ônibus, não queria encostar o pau duro dele no ombro da senhora que estava sentada na sua frente, porque ela não era loirinha e nem tinha os seios bonitos e nem uma blusa que valorizasse seus atributos. A Loirinha pediu para o Motorista parar para ela na rua Piratininga e o Motorista, que não era bobo nem nada, querendo se fazer de gente boa, parou para ela na rua Piratininga, que não era ponto de ônibus. O Homem de Terno Preto pediu para o Motorista abrir a porta de trás para ele, porque ele queria descer ali também, mas o Motorista não abriu a porta para o Homem de Terno Preto, porque ali não era ponto de ônibus e motoristas nunca param fora do ponto. O ônibus partiu e a Loirinha passou pela calçada e todos olharam pela última vez para os seios da Loirinha, que eram muito bonitos

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Emoção forte

Eu sempre quis pegar essas patricinha, sei lá, não é porque são bonitas não, mas é porque eu sempre quis vê qual é a delas. Elas são muito metidinha a gostosa, mas eu tenho vontade mesmo é de vê na hora do vamo vê. Elas são tudo metidinha, tipo aquela Lorinha ali, metidinha a gostosa, mas ela só tem um corpo bonito, gostosa mesmo é aquela outra ali, que também é patricinha, mas não é tão metidinha a gostosa assim. Ah, se eu pego uma dessas Patricinha Metidinha a Gostosa! Ia dá só tapa na cara, meter a porrada mesmo, porque o que elas querem é porrada lá na hora da parada, todas elas gostam de porrada, mas esses Playboizinho são uns merda, porque essas Patricinha Metidinha a Gostosa perdem a linha pra eles mas eles não sabem como fazer, tipo aquele muleque que botou na internet que tava cumendo a namorada, ela sim era esperta, mas ele era um Playboizinho de Merda. Se eu pego eu esculacho logo essas Patricinha Metidinha a Gostosa, porque é aí que elas gamam. Mas essas Patricinha Metidinha a Gostosa são muito burras, porque elas só dá mole pra esses Playboizinho de Merda, mas eles não sabe o que elas quer, elas quer é o cara mais sinistro e esses Playboizinho de Merda não tem a mesma malandragem, eles não sabe o que fazer na hora da parada. Porque você também tem que se ligar qual é da mulhé, tipo aquela Lorinha ali, eu esculacho logo, dô uns tapas que ela fica doidinha, mas tem outras que tu tem que pegar com jeitinho porque é tipo mulher carente, mal amada, com baixa auto-estima, é com essas que eu me dô bem, eu não sou playboizinho mas elas também não ligam pra isso, aí tu pega e dá um trato que a mulhé fica doidinha, mas aqui essas Patricinha Metidinha a Gostosa não vai me dá mole nunca, porque elas só quer saber desses Playboizinho de Merda, que não sabe como lidar com uma mulhé gostosa que nem elas. Essas Patricinha Metidinha a Gostosa ficam fazendo tipinho de menininha, mas o que elas quer mesmo é o cara que pega de jeito. Tipo essas crente. Tudo incubada. O que elas quer mesmo é um cara que pega de jeito. Eu também tenho vontade de pegar essas Crente Incubada, pego logo pelo cabelo e puxo com força, porque cabelo é o que não falta pra elas, são tudo de cabelão. Essas Crente Incubada deve deixar o cabelo ficar grande desse jeito pra vagabundo puxar mesmo, mas esses caras crente também são uns otários, ficam achando que a mulher é santinha, santinha é o caralho! Se eu pego uma Crente Incubada dessa eu puxo logo pelo cabelo, do uns tapa e ainda falo pra ela: para de se fazer de santinha que tu gosta de porrada! Pô, a mulhe vai pirar. Mas pra pegar uma Crente Incubada dessa tem que entrar pra igreja. Aí quebra! Tem muita crente gostosa, mas elas ficam com aquelas roupa larga, que nem aquelas que só andam com uma roupa azul, mas aquelas crente são tudo velha, sô mais as das outra igreja que as meninas vão com outras roupa, tem umas que vão até de sainha, pô o pastor deve ficar doido, duvido que não. Tudo novinha e com um fogo no cu do caramba, essas Crente Incubada tem tudo fogo no cu, que nem essas Patricinha Metidinha a Gostosa daqui. Tem tudo fogo no cu. Mas os Playboizinho de Merda não se ligam nessa parada não, o negócio deles é ficar tirando onda com o carrinho do papai. Esses Playboizinho de Merda nunca trabalharam que nem a gente. Queria vê se esses Playboizinho de Merda tivesse que trabalhar de verdade. Queria vê metê aquela mão de moça aqui na massa, trabalhar em obra, aí ia ter um bração assim igual o meu, ó, e mulhé se amarra nisso, em braço forte, mas mulhé de verdade, porque essas Patricinha Metidinha a Gostosa são muito burras, porque elas gostam desses Playboizinho de Merda que ficam cheios de bomba. Deve ter tudo o pau pequeno. Mas esses Playboizinho de Merda nem sabe o que fazer , não tem preparo pra vida, tão acostumado só com molezinha, criados com danoninho. No meu tempo não tinha essas parada não. Deve ser por isso que esses Playboizinho de Merda não sabe o que fazer com essas Patricinha Metidinha a Gostosa, nunca pegaram mulhé de verdade, porque se pegar uma mulhé dessa vai ser esculachado, a mulhé dá logo uma chave de perna no otário que ele fica doido, aí gama logo na mulhé, porque não ta preparado pra essas emoção forte.