sexta-feira, 24 de outubro de 2008

dois de setembro de dois mil e quatro

hoje eu só quero ficar
andando livre na areia
os pés descalços na praia
vendo o marulho do mar

hoje eu só quero ficar
com minha tarde faceira
pescando todas estrelas
que se afogam no mar

só preciso de uma brisa
e do frescor da espuma…

agora apago as pegadas
que me recordam as suas

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Memórias de uma TPM

não sei o que aconteceu de uns tempos pra cá
acho que foi a dureza e
a falta de tempo juntas
sabotando o meu guarda-roupa

e ainda por cima
estou me sentindo meio gripando hoje
espirrando direto
cansaço no corpo
garganta doendo
estou puta
não encoste em mim
não gosto que encostem em mim
e não venha me dizer que é tudo assim mesmo


ficar alegre?
rá rá rá!
vai ficar pra próxima
meus hormônios
me dominaram totalmente hoje
estou mega deprimida
com uma dor de cabeça que não passa
pelo menos o buscopan
deu jeito na merda da cólica
mas no meu computador ele não dá jeito
não sei porque mas
a barra de espaço está apagando as palavra

quero muito ir pra casa
ficar bem quietinha no meu canto
e esperar passar
essa dor vermelho âmbar
que se fossiliza bem aqui!

que fome
por que chocolate
não tem a mesma quantidade de calorias
de uma saladinha de alface?

não, não vou chorar
porque os olhos só coçam
quando a mão está cheia de sabão.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Libaneses

o ar cheira a lavanda
e o calor é latente
em pleno inverno
e o sabor é de nada
nada na boca
nada no pensamento
e a melodia do meu radinho de pilha
traz lembranças da juventude
no cair da esquina
verde nostalgia

lá do outro lado
as pessoas se machucam
e a nossa gente
corre e nos abraçam

tanto agasalho e nada de frio
é o inverno do nosso Rio

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Fim dos dias

o mar avança costa adentro
o surfista dropa sua última onda
ela diz pela última vez eu te amo
ele trai pela última vez sua esposa

o menino pede pela última vez sua esmola
na rua que perambula pela última vez
um casal de velhinhos de mãos dadas
esperam o fim deitados na cama

e pela primeira vez ele tenta
beijar a mulher a quem tanto ama.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Enquanto você dormia

I
era uma noite fria
quando a neblina cobria o pasto,
jovens afoitos se
escondiam,
homens e mulheres se
amavam,
aquela suave brisa se
encarregava
de oferecer a fabulosa sinfonia.

II
(seus olhos refletiam a luz dos meus,
suas mãos juntas às minhas nos aqueciam,
a noite favorecia um simples amor
em pleno apogeu
nossos corações, em perfeita harmonia,
selavam o que de melhor havia
nos olhos e mãos que se acolhiam.)

III
sem qualquer explicação
este amor que parecia fácil
desmancha-se
diante de seus olhos que
lacrimejavam
em uma ardência profunda
fora então, de repente, o que de mais cruel poderia lhe acontecer
naquela noite em que tudo era perfeito.

IV
(vaguei pela noite a procura de um porquê,
desejei àquela hora como a última de minha vida,
desejei que aquele momento fosse apenas um sonho
e então
chorei,
mais e mais,
como nunca havia chorado antes
algo me sufocava,
doía de tal forma
que eu não pude me conter
então fechei os olhos
quem sabe a noite derradeira em profundo descanso fizesse-me esquecer.)

V
e assim aconteceu o que não podia,
aqueles olhos e mãos já não o acolhiam,
inexplicavelmente, o repudiam
seu coração estava em pedaços
dormia ao relento naquela noite fria,
quem sabe a morte lhe seria a melhor saída
mas ao abrir os olhos
se deparou com uma rosa e um bilhete que dizia:

VI
(Meu amor,
perdoe este coração que não sabe amar
pudera eu demonstrar o que sentia,
quisera eu, por entre seus braços, me fazer mulher
ser toda sua dia-a-dia
pois estas gotas
que limpaste em teu rosto
não foi o orvalho que a ti cobria,
foi o meu amor que em lágrimas
derramei
enquanto você dormia.)

terça-feira, 19 de agosto de 2008

No motel

— Surpresa!
— rá rá rá! O que é isso? (se escangalhando de rir)
— É pra você amor. Não gostou?
— Sei lá... mais ou menos.
— Mas você não disse que odeia pêlos?
— Eu odeio pêlos em mim.
— Então quer dizer que eu depilei o peito e a barriga à toa? Estou parecendo um pintinho pelado à toa?
— Ah... é que ficou um pouco diferente. E além do mais, eu até gosto dos seus pelinhos.
— Poxa, eu pensei que iria te agradar.
— Tudo bem, depois cresce de novo.
— Essa porcaria tá pinicando!
— Tá vendo como que nós mulheres sofremos com depilações.
— Sofrem porque querem. Eu sempre te pedi pra deixar crescer os pelinhos da perna e dourá-los. Odeio esse negócio de coxa com pêlos até o joelho.
— Ah, não, eu não vou ficar igual a uma ursa por sua causa.
— Mas eu posso ficar com essa aparência de garoto de programa barrigudo!
— Eu não te pedi pra fazer nada disso.
— Eu fiz porque achei que iria te agradar, mas você nunca está satisfeita com nada. Sua frieza me mata!
— Você é que não consegue mexer comigo.
— Você sempre me pareceu satisfeita. Então você mente pra mim há todo esse tempo?
— Que “há todo esse tempo”? Nós só estamos juntos há 3 meses.
— Tá bom... A gente não veio a esse motel pra ficar discutindo, né?
— Agora eu perdi a vontade.
— Como assim!? Olha pra mim, eu ainda estou cheio de gás.
— Até parece... (rindo) Nem se você fosse um botijão estaria cheio de gás. Aliás, eu nunca te vi com gás.
— Pois não parece, porque você sempre fica com um sorrisinho safado depois que a gente transa. É tudo fingimento?
— Não, porque eu me concentro bem.
— Eu é que sou bom mesmo!
— Bom!? Até o Astoufo, meu ursinho de pelúcia, é melhor do que você.
— Você transa com seu ursinho de pelúcia?
— Só uso a patinha dele.
— Não acredito. A gente precisa conversar sobre isso.
— Sobre o Astoufo? Não liga não, ele...
— Não. Sobre a nossa vida sexual. A gente só se vê uma vez por semana. Precisamos fazer mais sexo.
— Como precisamos? Eu faço sempre.
— O quê!? Você sai com outros caras?
— ué, nós nunca falamos em exclusividade.
— Ai meu Deus, eu não acredito nisso! Eu pensei que você estivesse só comigo.
— Pra ser sincera, eu nem tô mais querendo ficar com você.
— E você vem me dizer isso logo aqui?
— Você não me deu outra escolha.
— Eu não acredito! Você me trai com outros caras, não tem tesão por mim, transa com um ursinho de pelúcia... Tem mais alguma coisa bizarra sobre você que eu ainda deveria saber?
— Eu nunca te cobrei.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Uns nomes

“um breve ensaio sobre o nome e seu uso cotidiano”

Quando nascemos recebemos um nome, um nome que será nossa marca, nossa identidade e que por mais que não gostemos dele, pois não foi da nossa escolha, é ele que carregaremos até a morte, aliás, o nome é a única coisa que podemos levar conosco para a eternidade. Somos dependentes desta marca classificatória, a que nos distingui das outras pessoas. Precisamos a todo o momento do nome, precisamos a todo o momento nos identificar. E gostamos de ser identificados, é quase uma questão de vaidade.
A técnica mais antiga de identificação era a tatuagem, já utilizada pelos romanos para marcar os mercenários de suas tropas. A partir do século XIX a fotografia, a medição antropométrica e a datiloscopia passaram a ser fundamentais no trabalho de identificação das pessoas. No Brasil, a cédula de identidade, mais conhecida sob as iniciais RG (Registro Geral), traz, além do nome do portador, o de seus pais, o da cidade e o do Estado em que nasceu, o dia, mês e ano em que veio ao mundo, uma foto, a impressão digital do polegar direito, a cidade, o estado, a data, o número de matrícula do funcionário responsável, sua assinatura e o emblema da polícia civil, entre outras informações. Daí o olhar de espanto e desconfiança presentes em todas as fotos das carteiras de identidade. Mas tudo isso não se faz merecedor de atenção, o importante mesmo é o nome, mesmo que não seja de muito grado do seu dono como aqueles nomes fáceis de rimar com alguma coisinha cabeluda ou aqueles em que é preferível ter um apelido.
A palavra nome vem do latim nomine, nome. Durante muitos séculos, o nome de batismo supria o do registro civil. Era comum os bebês receberem nomes de santos. No Caso do príncipe que proclamou nossa independência, seu nome completo era Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon. Bragança era da família real do pai, D. João VI. E Bourbon, da realeza espanhola da mãe, Carlota Joaquina. D. Pedro I foi o 27º rei de Portugal, com o título de Pedro IV, e o primeiro imperador do Brasil (só a título de curiosidade).
Não faço muita questão que me chamem pelo meu nome, já me acostumei a ser chamado por algumas pessoas de Carlinho, Luisinho, Fábio e o mais atual de todos, Edu. Não sei o que fazer, fico tímido, não consigo corrigir a pessoa dizendo que este não é meu nome. Sou cordial, isto não me cria grandes problemas. Um grande amigo meu, que lá se vão uns 15 anos, não consegue me chamar de outra coisa que não seja Luisinho e em uma ocasião especial, numa tentativa sem sucesso, tentei corrigi-lo e ele simplesmente me respondeu: – Tudo bem Luisinho. Desisti completamente de esboçar qualquer esforço para manter intacta minha identidade.
A sociolingüística na analise da conversação trata o nome como um par adjacente que corresponde ao chamamento e reconhecimento. Daí a idéia central de termos um nome para sermos identificados e reconhecer quando somos solicitados. Cabe a nós, pelo menos, falar o nome certo das pessoas, ou como eu, atender a vários nomes.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Ele

deixa ele
ele pensa que assim que se é feliz
essa exposição falsa de alegria
é só uma maneira de enganar a tristeza

é demais sua arrogância!
quem ele pensa que é?
ah, pobre rapaz!
pobre alma cheia
de verdade própria
que não ouve
nem a própria
voz da consciência
paciência!

decifra-lhe ou ele te devora.

deixa ele
deixa ele viver sozinho
ele é um produto de si mesmo
ele não sabe dividir

Não é assim
uma rosa não é feliz sozinha
no jardim
o beija-flor
não beija a flor
que o ignora cheia de soberba.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Olha pra mim

olha pra mim
mas olha sem pena
só estou aqui
porque quiseram assim
e nada foi fácil pra mim

olha pra mim
ore por mim
de onde venho ninguém me quer

não tenho mais a inocência de uma criança
nem tampouco a maturidade de um adulto
o que carrego comigo
é o que aprendo da vida
e a esperança já não me acompanha

ainda tenho um rosto infante
mas nele trago as marcas
dos anos que passam depressa
e no corpo as chagas da violência
que teimam em arder

não sou criança
nem sou adulto
sou o fruto da misericórdia que alguém esqueceu
as lembranças do passado, que ainda está presente,
me perseguem (carrego algumas com amor e outras com rebeldia)
mas apesar de tudo
ainda consigo sorrir
sem ao menos questionar...

o que te posso dar
é somente o que perdi:
dou a minha infância tão violada,
o sorriso, quando na verdade, quero chorar
a firmeza de um coração sem piedade,
quando na verdade, quero um abraço de amigo
a inteligência apetecida de saber

aprendi que não se deve esperar das pessoas
mais do que aquilo
que elas possam oferecer,
pois somos assim,
seres humanos
burros e falhos
ninho de ignorância do aprendizado vil.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Receita prática de pavê de chocolate

separe todos os ingredientes
para depois transformá-los num só
creme delicioso e bem quente:
creme de leite e chocolate em pó,
leite integral pro biscoito molhar,
leite condensado pra adocicar
e maisena só para engrossar.

misture o leite
– duas medidas –
creme de leite,
a maisena
– uma de chá –
o leite moça
– pra adocicar –
e o chocolate
– pra pretinho ficar –

agora mexa por alguns minutos
a fogo baixo pra não empolar
com colher-de-pau – já vou explicar –
espere até mingau assim virar.

enquanto o mingau esfria um pouco
nunca se esqueça da colher-de-pau
você vai se distrair como um louco
lambendo por toda a colher-de-pau.

depois de lambida toda colher
comece o delicioso pavê
molhe o biscoito no leite integral
coloque na forma distribuído

biscoito
e creme
biscoito
e creme
biscoito
e creme

e agora pro pavê ficar fechado
salpique-lhe todo de granulado

coloque embalado na geladeira
deixe o pavê esfriar um pouquinho

e quando mais tarde, sirva ele assim:

um pouquinho pra você
um pouquinho para mim.