terça-feira, 25 de março de 2008

Nosso destino era nunca nos beijarmos

Foi preciso anos para nos darmos conta de que fizemos tudo errado. Acho que se fosse hoje conversaríamos mais. Talvez eu não teria guardado por tanto tempo aquele sentimento que era tão gostoso, tão mágico, tão puro e inocente, e que ao mesmo tempo era cruel, que me fazia sofrer. Eu sabia que você me amava, mas tinha medo de perguntar. Você sabia que eu te amava, mas nunca perguntou.
Difícil é acreditar que talvez nada disso pudesse acontecer em nossas vidas. E se eu nunca te esperasse para irmos juntos pra casa? E se eu não passasse horas a fio só olhando pra você admirando sua beleza e ignorando seus defeitos? E se eu nunca tivesse brigado com aquele menino que estava te abraçando, mesmo morrendo de medo de brigar? E se você nunca tivesse feito carinho nos meus cabelos até eu adormecer? E se eu não tivesse te ensinado o significado de “O lábaro que ostentas estrelado”, e você não tivesse me ensinado aquela frase em inglês, que até hoje eu repito: “are you crazy, boy!”? E se a gente não ficasse todo santo dia juntos, só por ficar. Lembra que eu parei de usar perfume porque você era alérgica? Lembra que você me esnobava porque suas notas na escola eram melhores que as minhas? Lembra de tudo isso? E se nada disso tivesse acontecido? Difícil é tentar entender as armadilhas que o tempo nos prega. Quando se é criança é bem mais simples amar. Quando se é adulto é bem mais complicado entender o que o coração quer dizer.
Ah, se soubéssemos que seria tão simples entender o que pareceu ser tão complicado naquela época. Mas a gente tinha que estragar tudo! Foi preciso um beijo, um único beijo, que, inexplicavelmente, foi o último. Mas o melhor de todos os beijos, uma sinestesia absurda: perfume, calor, sabor. O beijo que ficou congelado na minha memória. E depois desse beijo, nunca mais um sorriso,um abraço, um gesto de carinho, nada. Só o silêncio inoportuno de anos inexplicáveis de distância.

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